Pensamentos


sábado, 9 de abril de 2011

Carl Sagan e o Kit para detectar falácias e fraudes

Em 1996 Carl Sagan lançou um livro espetacular: “O Mundo Assombrado pelos Demônios – A Ciência vista como uma Vela no Escuro”.
Dentre vários assuntos nesse livro ele descreve um kit de ferramentas para o pensamento cético, que se fosse mais utilizado, a sociedade seria muito menos propensa a cair em erros de julgamento.
Segue a transcrição deste kit completo. Quem quiser olhar no livro está na página 208.

1 – Sempre que possível deve haver confirmação independente dos “fatos”.

2 – Devemos estimular uma debate substantivo sobre as evidências, do qual participarão todos os partidários de todos os pontos de vista.

3 – Os argumentos de autoridade tem pouca importância – as “autoridades” cometeram erros no passado. Voltarão a cometê-los no futuro. Uma forma melhor de expressar essa idéia é talvez dizer que na ciência não existem autoridades, quando muito, há especialistas.

4 – Devemos considerar mais de uma hipótese. Se alguma coisa deve ser explicada, é preciso pensar em todas as maneiras diferentes pelas quais poderia ser explicada. Depois devemos pensar nos testes que poderiam servir para invalidar sistematicamente cada uma das alternativas. O que sobreviver, a hipótese que resistir a todas as refutações nessa seleção darwiniana entre as “múltiplas hipóteses eficazes”, tem uma chance muito melhor de ser a resposta correta do que se tivéssemos simplesmente adotado a primeira idéia que prendeu nossa imaginação.

5 – Devemos tentar não ficar demasiado ligados a uma hipótese, só por ser a nossa. É apenas uma estação intermediária na busca do conhecimento. Devemos nos perguntar por que a idéia nos agrada. Devemos compará-la imparcialmente com as alternativas. Devemos verificar se é possível encontrar razões para rejeitá-la. Se não, outros o farão.

6 – Devemos quantificar. Se o que estiver sendo explicado é passível de medição, de ser relacionado a alguma quantidade numérica, seremos muito mais capazes de discriminar entre as hipóteses concorrentes. O que é vago e qualitativo é suscetível de muitas explicações. Há certamente verdades a serem buscadas nas muitas questões qualitativas que somos obrigados a enfrentar, mas encontrá-las é mais desafiador.

7 – Se há uma cadeia de argumentos, todos os elos na cadeia devem funcionar (inclusive a premissa) – e não apenas a maioria deles.

8 – A Navalha de Occam. Essa maneira prática e conveniente de proceder nos incita a escolher a mais simples dentre duas hipóteses que explicam os dados com igual eficiência.

9 – Devemos sempre perguntar se a hipótese pode ser, pelo menos em princípio, falseada. As proposições que não podem ser testadas ou falseadas não valem grande coisa. Considere-se a idéia grandiosa de que o nosso Universo e tudo que nele existe é apenas uma partícula elementar – um elétron, por exemplo – num Cosmo muito maior. Mas, se nunca obtemos informações de fora de nosso Universo, essa idéia não se torna impossível de ser refutada? Devemos poder verificar as afirmativas. Os céticos inveterados devem ter a oportunidade de seguir o nosso raciocínio, copiar os nosso experimentos e ver se chegam aos mesmos resultados.

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