Foto: Veja
Essa
semana o Supremo Tribunal Federal julgou definitivamente que o aborto de
anencéfalos não pode ser considerado crime. O fato foi bastante noticiado pela
mídia e me espantei com a quantidade de entidades e pessoas que ainda achavam
que deveria continuar como crime e ser proibido no país.
Realmente
achei que esse tema não teria tanta discordância e nem daria tanta mídia.
Reconheço que o tema aborto, em geral, é bastante polêmico. Mas aborto de
anencéfalos não deveria ser!
Mas
o que gostaria de chamar atenção aqui são os argumentos utilizados pelos dois
grupos antagônicos. Todos que defendiam a descriminalização da prática se
pautavam pela ciência, e todos que defendiam a proibição se pautavam em
argumentos de origem religiosa, espiritual ou etc...
A
ciência foi responsável por entender todo o processo de fecundação e origem da
vida no útero. Hoje é possível fazer um ultrassom e identificar diversas
doenças congênitas, verificar o crescimento do feto e, inclusive, o sexo do
bebê. Também é possível saber quando o feto não possui cérebro e,
consequentemente, saber que a "vida" que ele possui é só um
crescimento orgânico de orgãos, o que é insuficiente para ter uma vida fora do
útero. Porque ser obrigada a levar essa gravidez até o final só para ver o bebê
morrer após o parto?
Fazendo
um paralelo, quando uma pessoa idosa está na UTI de um hospital e os médicos diagnosticam
a morte cerebral , nossa sociedade já entende que a situação é irreversível e a
vida só é sustentada por aparelhos. E não se vê grupos religiosos saindo de
faixa pedindo para não desligarem os equipamentos destes pacientes.
Todo
esse desenvolvimento do diagnóstico através de exames é relativamente recente,
e obviamente, a igreja não acompanhou esse progresso e fica baseando seu
conceito de ética pelo que a humanidade conhecia de biologia no século XIV.
Utilizo o termo "obviamente" porque a igreja constantemente se
contrapõe aos progressos proporcionados pela ciência. Só pra lembrar: Galileu,
uso de preservativos, divórcio... É como se a humanidade devesse se sentir
culpada por estar progredindo cientificamente!
Os
Ministros do Supremo julgaram utilizando critérios científicos. Até quem foi
contra não utilizou argumentos religiosos. O que considero muito correto.
Afinal posições religiosas não deveriam servir nunca de base para decisões de
política de saúde pública, sejam elas a favor ou contra o tema. Ainda temos
muito caminho a andar nesse sentido mas, pelo menos nesse caso, prevaleceu o
bom senso de assumir o progresso científico que levamos tanto tempo para
desenvolver.
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