Pensamentos


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Precisamos dos Sofistas para Divulgar Ciência?

Estava assistindo a aula de Política do Professor Clóvis de Barros e ele comentou sobre Platão e sua crítica a sociedade em que ele fazia parte.

Em Atenas, uma das primeiras sociedades democráticas, as decisões eram tomadas pelo povo diretamente nas reuniões onde os assuntos eram debatidos. O lugar onde essas reuniões eram realizadas era conhecido como Ágora. Nestas reuniões, algumas pessoas tomavam a palavra para  defender seus pontos  de vistas, e no final da reunião uma decisão era tomada pelos presentes. Platão que era contemporâneo dessa época, questionava esse método de tomada de decisão, e chegou a escrever sobre isso no seu livro "A República".

Segundo Platão, essa prática dava muito valor a esta habilidade de falar em público, o que impossibilitava a divulgação de ideias e posições de pessoas que não tinham essa habilidade, mesmo que os assuntos fossem relevantes para a cidade. Os Sofistas eram as pessoas que tinham essa habilidade. Eles faziam seus discursos com maestria e conseguiam arrematar as massas para decidir a seu favor. Platão questionava que a forma de passara a informação estava mais valorizada do que o conteúdo.

Imagem: http://kaiteos.blogspot.com/2010/02/os-sofistas.html

Percebe-se facilmente que o que não faltam são Sofistas na nossa sociedade. Ainda temos muita gente que tem o poder do carisma, do discurso, consegue captar a atenção do público de uma forma ímpar, mas passa uma mensagem totalmente pobre de conteúdo. Da forma que fazem a comunicação, conseguem vender ideias absurdas a uma grande quantidade de gente e por muito tempo. O formato hipnotiza o espectador e anula o seu senso crítico.

Mas eu tomo a liberdade de fazer uma observação. A Ciência poderia ser melhor divulgada se tivesse em seu "quadro" pessoas com essa habilidade. Mas em geral o cientista fica tanto tempo estudando que não tem tempo para aprender isso também. Aliás ocorre o contrário, e quanto mais estudam mais se tornam introspectivos. Até mesmo dar aulas na universidade é tido como uma obrigação para muitos pesquisadores. Não gostando fica ainda mais difícil dele se tornar um bom divulgador e conseguir atrair mais alunos para a sua área de estudo. Com isso o aluno fica cada vez mais longe da ciência e para completar ainda fala mal da matéria para o amigo que já vai pensar duas vezes em escolher esse caminho acadêmico.

Faça um exercício mental. De todos os professores que você teve, quantos você assistia porque gostava da aula? Se você fez faculdade essa quantidade deve ser ainda menor. E se você considerar somente os professores que lecionavam matérias exatas ou biológicas, deve reduzir mais ainda.

Eu tive um Professor de Matemática Aplicada chamado Ricieri, que tem o dom da comunicação. Já comentei do curso dele aqui no blog. Ele consegue manter uma sala de 190 pessoas que iam assistir aulas aos domingos e feriados as 7:00 da manhã e ficavam até 12:30 só com 15 minutos de intervalo. Sem dúvida foi um dos motivos de eu ter continuado os estudos e feito mestrado, e deve ter influenciado muita mais alunos também. Só que esses exemplos são raríssimos. Infelizmente.

Não acho que precisamos dos próprios Sofistas para ajudar na divulgação, porque em Ciência é necessário que que o divulgador tenha conteúdo, e não só a habilidade da "presença de palco". Mas pessoas como Carl Sagan estão fazendo falta. Atualmente não consigo lembrar de ninguém que tenha o mesmo carisma e o mesmo dom de comunicação de assuntos científicos. No brasil então menos ainda, só consigo lembrar do Marcelo Gleiser, mas precisamos de muito mais.

Na minha opinião a comunidade cientifica precisa, como um todo, entender que faz parte das funções divulgar e trazer a população mais perto da Ciência. Caso contrário a invasão de centros de pesquisa de animais vai ser só o começo de uma espiral descendente da razão.

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