A notícia é velha mas o debate ainda é válido. Li na Istoé que recentemente um evento chamado Fórum de Filosofia e Ciência das Origens, que seria feito na Unicamp, foi cancelado após vários cientistas se oporem ao evento. O cancelamento provocou diversas reclamações, basicamente se referindo ao cancelamento como discriminação de uma determinada corrente de pensamento. Também diziam que a universidade deve promover debates e não cancelá-los....
Vejam o quão sutil e perigoso são esses argumentos!! Ninguém, obviamente, é contra a discussão das ideias, mas na primeira impressão fica parecendo que a universidade está mesmo sendo discriminatória. Mas não é bem assim. Na verdade a Unicamp escapou de ser utilizada como escada em mais um evento religioso disfarçado de científico.
O nome "Ciência das Origens" é na verdade um nome pomposo para criacionismo. Os criacionistas usam o termo "Ciência" para obter maior credibilidade. Já comentei aqui outras vezes que todas as religiões e pseudociências anseiam pela credibilidade que só a ciência tem. Por isso tantos argumentos vazios começam com a frase "já foi provado cientificamente..."
E chamar o criacionismo de "Ciência" de qualquer coisa já é um passo nesse sentido. Mas fazer um evento com esse tema dentro da Unicamp seria muito melhor, certo!!! Teria uma Universidade pública dando aval para esse assunto religioso. Seria mais um pézinho que a religião colocaria para dentro das universidades, se travestindo de ciência para ganhar credibilidade.
E quanto a discussão das ideias? Não seria interessante o debate? Com certeza!!! Mas de forma clara e fora da universidade. A universidade, e eu diria que até mesmos as escolas, são os lugares onde se ensinam conhecimentos científicos. Antes de chegar para os alunos, tudo já foi infinitamente estudado, testado e representa o que a ciência considera correto atualmente. Fora isso, discussões de ideias criacionistas por exemplo, devem ser feitas fora do ambiente escolar. O que não faltam são lugares para isso. Mas utilizar a universidade nada mais é do que uma forma de sequestrar a credibilidade da instituição.
Ainda bem que ainda existe uma categoria vigilante de cientistas expondo essa tática de infiltração nas universidades. Pena que são poucos, e tenho certeza de que muitos eventos desse tipo em universidades de menor renome, e consequentemente menor visibilidade, devem estar ocorrendo no Brasil.